domingo, 31 de março de 2013

te amando por cenas

Mas minha mesa é bagunçada, assim como meu computador, minha agenda e minha vida. E você não aguenta mais ver tantos post-its espalhados pela casa. No computador, na geladeira, no despertador, na maquina de lavar. Não briga comigo, eu sei que ainda não concluí o projeto de segunda, ainda não reorganizei as pautas da reunião e o livro para a prova da pós-graduação ainda está sem resenha. Mas você ri, porque sabe que, no final, mesmo com esse jeito meio alternativo de me organizar,  vou me sair bem em tudo isso. Você é melhor do que eu para organização. Os itens da tua ''lousa de tarefas'' já estão quase todos com setinha verde. Sua agenda sem muitos clipes e os cadernos, livros e "jobs" organizados por prazo e por ''quanto já fiz deste'' que você define por cor, sendo quê:  para os que estão adiantados e com prazo flexível - etiqueta cor de rosa. Aos que você não deu muita atenção, etiqueta laranja. Aos que estão em cima do prazo e atrasados, etiqueta vermelha. Aos que estão prontos, etiqueta verde. Enfim. Eu juro que tento, mas sua metodologia conflita com as minhas.
Ainda sim, o bom é deitar aqui na cama, com minha tijelinha de morangos frescos, fingir trabalhar na resenha do livro e, por fim, ter essa visão linda de você profundamente concentrada em algum trabalho emergencial. Na tua mesa toda organizada, essa camiseta cinza, grande e larga. Short brin, descalça, chá gelado de hortelã acompanha, na caneca que eu te dei de presente de ''um mês de casada''. Quem diria, já está na hora de comprar uma nova, dessa vez: '' um ano e meio de casada''.
 Eu acompanho seus passos pela casa, me apaixonando um pouco mais á cada gesto. Bloqueio criativo - banquinho na varanda - pausa pro cigarro. Agora eu entro em cena. Por que eu sei que você, um pouco mais discreta do que eu, também acompanha meus passos. Deixei o computador de lado - saí do edredom - pausa pro copo de água. Você está ai, numa fuck crise existencial, o trabalho que te enfia nesse dilema tem etiqueta laranja. Como quem não quer nada, paro na cozinha pra pegar o copo d'água e te olhar um pouco mais. Desfilo displicente pela casa: calcinha de algodão, camiseta rasgada da tua banda favorita - los hermanos - coque no cabelo e óculos de grau.  Cansei de ouvir ás vezes que você dizia me amar um pouco mais quando me via andando assim pela casa. Antes eu fazia por conforto, agora eu faço por conforto e por você. Caminho na tua direção, você me sorri. Vento gelado na varanda. Você diz: ''Você é linda''. Cheguei. Sentei no teu colo. Dei uma tragada no teu cigarro, te devolvo um sorriso. Você me envolve na cintura, deita a cabeça no meu peito. Afundar minhas unhas vermelhas no teu cabelo preto-mácio-cheiroso-liso sempre foi o contraste de cor que eu mais gostei de admirar na vida.  Um beijo com sabor de cigarro-chá-gelado-de-hortelã-morango-fresco. Essa é a vida que eu sempre quis pra mim.

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