terça-feira, 14 de março de 2017

“E quero brincar de esconde-esconde e dar minhas roupas para você e dizer que eu gosto dos seus sapatos e sentar nos degraus enquanto você toma banho e massagear seu pescoço e beijar seus pés e segurar a sua mão e sair para jantar e não me importar quando você comer minha comida e encontrar você no Rudy e falar sobre o dia e digitar suas cartas e carregar suas caixas e rir da sua paranóia e te dar fitas que você não vai ouvir e assistir a belos filmes e assistir a filmes horríveis e reclamar do rádio e tirar fotos de você quando você estiver dormindo e levantar para te levar o café e pãezinhos e geléia e ir ao Florent e tomar café à meia-noite e deixar você roubar meus cigarros e nunca achar os fósforos e contar pra você sobre o programa de TV que eu vi na noite passada e te levar ao oculista e não rir das suas piadas e querer você de manhã mas deixar você dormir mais um pouco e beijar suas costas e acariciar sua pele e dizer quanto eu amo seu cabelo seus olhos seus lábios seu pescoço seus peitos sua bunda sua e sentar nos degraus e fumar até seu vizinho chegar em casa e sentar nos degraus e fumar até você chegar em casa e me preocupar quando você estiver atrasada e me surpreender quando você chegar mais cedo e te dar girassóis e ir à sua festa e dançar até não poder mais e me desculpar quando eu estiver errado e ficar feliz quando você me perdoar e olhar suas fotos e querer ter te conhecido desde que você nasceu e ouvir sua voz no meu ouvido e sentir sua pele na minha pele e ficar assustado quando você estiver zangada e um de seus olhos ficar vermelho e o outro azul e seu cabelo cair para a esquerda e seu rosto parecer oriental e dizer para você que você é linda e te abraçar quando você estiver ansiosa e segurar você quando você se machucar e querer você toda vez que eu te cheirar e te ofender quando te tocar e choramingar quando estiver do seu lado e choramingar quando não estiver e babar nos seus seios e cobrir você de noite e sentir frio quando você tirar meu cobertor e calor quando você não tirar e me derreter quando você sorrir e me acabar por completo quando você gargalhar e não entender por que você acha que estou te rejeitando quando eu não estou te rejeitando e pensar como você pôde achar que alguma vez te rejeitei e pensar em quem você é e te aceitar de qualquer jeito e te falar sobre o garoto da floresta encantada que atravessou o oceano porque te amava e escrever poemas para você e pensar por que você não acredita em mim e sentir tão profundamente que eu não ache palavras pra expressar esse sentimento e querer te comprar um gatinho do qual eu teria ciúmes porque ele teria mais atenção do que eu e deixar você ficar na cama quando você tiver que ir e chorar como um bebê quando você finalmente for e me livrar das pontas e te comprar presentes que você não queira e levá-los de volta e pedir para você casar comigo e ouvir você dizer não mais uma vez mas continuar pedindo porque apesar de você achar que eu não estava falando sério eu sempre falei sério desde a primeira vez que te pedi em casamento e vagar pela cidade achando que ela está vazia sem você e querer o que você quer e achar que estou me perdendo mas saber que estou seguro quando estou com você e te contar o que eu tenho de pior e tentar te dar o que eu tenho de melhor porque você não merece nada menos do que isso e responder suas perguntas quando eu preferir não responder e dizer a você a verdade mesmo quando eu realmente não queira e tentar ser honesto porque eu sei que você prefere assim e achar que está tudo acabado mas agüentar por mais dez minutos antes de você me jogar fora de sua vida e esquecer quem eu sou e tentar ficar mais próximo de você porque é lindo aprender a te conhecer e vale a pena o esforço e falar mal alemão com você e falar hebraico pior ainda e fazer amor com você às três da manhã e de alguma forma de alguma forma de alguma forma expressar um pouco deste esmagador embaraçoso interminável excessivo insuportável incondicional envolvente enriquecedor-de-coração ampliador-de-mente progressivo infindável amor que eu sinto por você.”
(“Ânsia”, de Sarah Kane)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

2016 né, menina ?

Há cinco dias de acabar o ano mais esperado da minha vida, devo dizer que, pela primeira vez em muito tempo, eu não fui tão profundamente feliz em algum ano. Que eu me lembre, a ultima vez que gostei tan-to de um ano foi 2009 e, posteriormente, 2013. Mesmo assim, por um e pelo outro, nada ainda bateu o prazer e a dor que foi 2016 - esse ano (trocadilho ínfame) ímpar. 
Esse ano eu ouvi muito a seguinte frase ''é importante fazer memória, ter o registro, isso conta nossa história''. Concordo e, não atoá, sempre mantive muito díarios, caixas com cartinhas e o blog. Que é um encontro íntimo de mim, para mim e comigo. <3

Esse ano foi tão especial e bom, que eu estou até com medo do que me aguarda pra 2017 - esse ano que vai ser um novo ciclo inteiro, forte, existencialista, pragmático e doce, desejo. Em celebração e rito de passagem, que registrar doze coisas bonitas e ricas que eu vivi/conquistei ao longo dos últimos doze meses. 

1) aprendi a beber: vamos com calma nesse falso moralismo, tá bem ? é isso mesmo. eu bebi! e eu vivi intensamente esses pórris e as ressacas. as ressacas me valeram analises que sessão de terapia nenhuma ia dar jeito. foi um encontro subversivo que me trouxe muita alegria, e muito aprendizado, de vida mesmo. viva a catuaba! e força, afinal, eu prometi parar de beber por um ano inteiro. 

2) eu não preciso de muito dinheiro: graças a deus e aos bloquinhos de rua. janeiro/fevereiro/março me arrancam sorrisos até hoje! eu fiz uns rolês maravilhosos, conheci gente do melhor astral que eu podia conhecer, dancei até suar todos os meus poros e fico com o coração quentinho de saber que foi tudo tão simples, barato e bom!

3) gente tóxica, saí daqui, não me rela: eu comecei o ano desempregada. desempregada há quase uns seis meses e no último semestre da faculdade. isso gerou uma crise de ansiedade da-na-da. tipo, de não dormir bem, ficar chorosa, perder o ar. daí nessa, eu comecei num trampo o-k, a principio ok. Daí que nesse trampo tiveram assédio com outros colaboradores e a naturalização de agressões que a mim eram impraticáveis. Daí que mesmo eu precisando para caralho do trampo, da grana eu larguei tudo e fui embora. Isso, com menos de sete dias de trampo. Porque ás vezes, é preciso sair. Mesmo parecendo loucura. Vai acontecer algo providencial, bota fé! 

4) rompimentos: se eu pudesse resumir o ano em uma palavra seria essa 'rompimento'. de todos os tipos. amorosos, familiares, amigos, trampos. esse ano eu rompi com meu ex-namorado, eu rompi com meu pai, eu rompi com alguns familiares, eu rompi com algumas amizades. eu ROMPI. tirei da tomada, desconectei, descartei. e isso doeu! isso doeu tan-to. mas isso curou. curou tudo! 

5) good vibes only: na cura, um chá pra aliviar. é isso, eu me tornei mais resiliente. menos treteira, mais de boa com a vida, com as pessoas, mais alto astral. não é forçar a barra, é processual. e eu encontrei a minha pira, o meu processo. que peloamordedeus eu só quero gente alto astral, querendo paz, um pouco de diversão e disposto a ver que a vida é treta, e já que é treta: vamo tirar onda. Bitch, don't kill my vibe.

6) pra rir tem que fazer rir: sem corrupção e sem capitão nascimento. é uma parada mais perto de emanar o bem pra receber o bem, sabe ? ás vezes a gente entra numa neurose - e tudo bem, é processo e é legítimo - mas a tendência é que quanto mais sorrisos você der, mais sorrisos você receberá.  esse ano foi o maior perrengue, pra geral. talvez até mais que o ano passado. mas esse ano eu levei com tan-ta gratidão, que pareceu mais leve. tudo bem mais leve. 

7) estado contínuo e regrado de gratidão: regrado ? isso, regrado. porque gratidão é um hábito sabe ? não é assim, uma coisa meio jah-rastaferi que de repente você agradece até pela água que você tá bebendo.  a gente reclama de tudo, o tempo inteiro e SEMPRE iremos reclamar. mas você ter consciência disso e SE PROPOR a reclamar menos e agradecer mais faz diferença. Eu formei pra mim uma equação simples: 1 por 1. A cada reclamação, um agradecimento. Eu falhei alguns dias, algumas fases, mas no geral eu fui bem sucedida. Hoje, por exemplo, eu vim trabalhar num calor infernal com geral indo viajar, mas eu agradeci real. Porque o céu tava bem limpinho, o transporte estava vazio e semana que vem eu vou ter um salário, pra poder viajar, fruto desse trampo. 

8) rolê na casa dos amigos: eu tive a felicidade de me reunir com vários amigos, em jantares, sociais, pra almoçar, jantar. pra trocar ideia por um tempão. e isso foi maravilhoso. sem intenção de rolê, um rolê. pra dividir os perrengue da vida. pra fugir dessa vitrine de constante felicidade que o instagram nos exigi. 

9) ostracismo necessário, desconecta! : eu sou assumidamente e problematicamente carente. isso implica em dizer que eu preciso/sou viciada em relações interpessoais de toda instância. amizade, amores, flertes, romances, novos amigos, trabalho - enfim, todas. mas eu fiquei 25 dias inteiros sem facebook e whatsapp e foi vital. ás vezes tudo acontece intenso demais, corrido demais, rápido demais, informação demais. e muita coisa de nós se perde! então, vez ou outra, vale tirar umas férias da vida social também. e voltar  melhor, pra mais bagunça <3

10) vaidade é uma coisa relativa, né ?! : esse ano, diferente dos outros que eu ficava neurótica com meu peso, com minhas roupas, com meu lifestyle, eu fiquei de boa. isso me rendeu uns bons kilos a mais (que sim, ainda me deixam triste pra caralho) mas eu me senti mais bonita e plenamente bonita do que em qualquer ano anterior, desde que eu nascia. real oficial. 

11) saúde: sem massagem, tem que ter saúde. papo de vó ? de mãe ? de gente adulta ? SIM! mas não devia. esse ano eu fiquei doente duas vezes. uma delas eu fui transferida de ambulância e, dramática que sou, pensei que ia morrer. Daí que isso me fez acessar esse lugar que não tem absolutamente NA-DA mais importante do que cuidar da sua saúde. Porque quando você fica doente, além de você não poder fazer nada pra cuidar da sua vida, você exigi que outras pessoas se mobilizem para cuidar de você. Quer coisa mais inconveniente ? Então, por favor, vamos nos cuidar como cuidamos das pessoas a quem amamos. 

12) joguinhos: parem por favor, parem!: Daí que eu fiquei solteira, depois de tipo uns mais de dez anos emendando uma relação na outra. Solteira e, pela primeira vez, feliz. Sem a bad do término, sem a paixão agudá pelo crush, sem aguardar o próximo amor da minha vida. Só de boa, realmente de boa. Conhecendo umas pessoas legais - outras nem tanto - pra sair, dançar, se divertir. Mas daí que tem essa parada dos jogos né ? Mensagem demais, mensagem de menos. Isso parece to much, mas isso parece frio. Se eu fizer isso vou parecer grudenta, mas se eu não fizer vou ficar com vontade. Ai, que saco. Essa é a parte mais chata das relações contemporâneas. Para 2017 eu desejo encontrar pessoas mais desprendidas, com mais vontade e honestidade pra viver os sentimentos, as sensações. Mais malemolência.  

Pra encerrar a citação que mais me deu paz durante esse ano: '' a compreensão te fará saber que os outros são criaturas autônomas, gravitando sempre na direção de objetivos diferentes dos teus." 

Afinal, o que é verdade absolutamente e incontestável: está todo mundo tentando melhorar. 



domingo, 13 de março de 2016

vai dar tudo certo

Eu sei, ta tudo uma bagunça! Estão fechando nossas escolas, acusando nossa presidente, devastando nossos recursos naturais. Continuam matando a população negra, periférica, sofredora - insistindo que no Brasil, não, no Brasil não existe racismo. Estão, desesperadamente, tentando frear a onda (forte) do empoderamento da mulher, da visibilidade das novas estruturas familiares e afetivas. Estão tentando minar nossa fé no outro, na vida, no amor.
Estamos em crise econômica, perdendo nossos empregos. Evidências de um caos político, social, cultural, econômico.
Ansiedade, depressão, crise existencial. Ta tipo, tudo errado!
E isso me entristece profundamente. Me revolta. Me deixa péssima, péssima!
Mas eu acredito mesmo numa providência maior. Que você, aí,pode denominar como teu deus (sim, em minúsculo), nosso deus.
Eu dou o nome de energia universal.
E isso tudo que está acontecendo em nada tem haver com castigo, redenção dos pecados, fim do mundo, destruição da espécie humana e qualquer coisa de horrível vindo diretamente das profundezas do inferno. Acreditar nisso seria se isentar na nossa responsabilidade, enquanto criaturas inteligentes, perante ao cenário, concorda ?
Está acontecendo um processo de transformação, de maturação, desenvolvimento espiritual. Que vai pra além - muito, muito além - da nossa compreensão.
E poxa! Eu sei mesmo o quanto parece que não tem mais jeito, que o ser humano está cada vez mais retroativo, cruel. Eu sinto isso toda vez que vejo uma nova noticia ruim.
Mas não estamos. Não somos! E, do fundo do coração, todo mundo (sem exceção) que está aqui nesse espaço-tempo está, mesmo, tentando melhorar.
Está todo mundo tentando melhorar.
O processo é lento, constante e dolorido mas nunca, em hipótese alguma, retrógrado.
Por isso, e por mais, é que eu desejo que possamos sempre, todos os dias, contribuir com o melhor de nós. Doar aos que convivem conosco, o melhor que podemos ser.

Vai dar tudo certo!


domingo, 14 de fevereiro de 2016

fala guerreira, relação de trabalho, perrengue e a dor de amadurecer

trabalhe com o que você ame. eu sei, eu sei, eu sei. não tem nada mais clichê que esse papo de trabalhar com o que você ama, ainda mais pra nós da tão mal falada geração y - essa geração que não sabe lidar muito bem com a vida adulta-profissional - bom, pelo menos é o que dizem. 
nada tão clichê e, principalmente, tão romantizado. bonita de falar, mas e fazer ? quem dá conta ? eu não sei daí quais são os teus perrengues, mas do lado de cá, só digo em duas palavras: tá fo-da.  muita conta, nenhum dinheiro e há mais de uns meses na estatística de desemprego que só aumenta - +1. 
mas, mesmo sob esse contexto, retomo pra dizer que a frase está correta, corretissima, literalmente correta - é vital trabalhar com o que se ama. faz bem pra cabeça, pra alma, pro corpo. faz você se sentir confiante, autônomo, realizado aquele gostinho de estou-fazendo-minha-missão-no-mundo. 
dessa frase a única coisa errada é o significado que damos a palavra trabalho. o que está errado, erradíssimo, errado pra cacete é essa relação de trabalho subserviente que nos é dada desde que nos entendemos por gente. onde por trabalho, se entende: função - tarefas - das 9h ás 18h - 1h de almoço - telefone - computador - chefes - bateu o ponto - acabou por hoje. 
mas trabalho não é isso, digo, não deveria ser. trabalho é o que você é e o que você produz a partir daquilo que você é. trabalho é sua expressão intelectual, politica, social no mundo. é o que você consegue produzir - e, com isso, se sustentar. viabilizar retorno para que você possa comer, beber, vestir, andar e, enfim, toda aquele piramide de maslow.
acontece que fizemos essa cisão entre eu ser humano + eu e meu trabalho, quando, na realidade, não deveria ser assim. e esse tão - em dias de capitalismo mais globalização mais era digital mais sociedade do consumo mais status e blá - utópico conceito de trabalhar com o que se ama, consiste em ressignificar nossa relação com o trabalho, com o conceito e com a pratica. 
trabalhar é estruturar um pensamento, aplicar um projeto, difundir uma idéia, algo que você se dedique, que exija da sua capacidade intelectual, interpessoal, que demanda algum tempo da sua vida e faça parte das tuas vivências nos múltiplos espaços que você permeia. que contemple suas ações enquanto individuo e coletivo. no final das contas, trabalhar com o que se ama, é produzir algo no qual você acredite e só. e isso pode estar sim, no escritório, no horário comercial e com alguns chefes - como manda o figurino, mas, pode - e muito provavelmente está - nesse outro lado que você não olha muito, que você deixa ali, de ladinho, com pouco caso. 
dizendo por mim: estou há mais de um ano numa fucking crise profissional. muitos estágios, uma graduação a poucos passos da conclusão e nem de longe o cheirinho de uma realização profissional. desempregada, sem grana, um perrengue danado. uma cabeça lá, toda voltado para os moldes já impostos do que é realização profissional, afinal, o que eu sei mesmo ? o que eu posso oferecer ao mercado de trabalho ? e na minha cabeça, a única (e profundamente dolorosa) frase ecoando: "NA-DA". não sou nenhuma garota prodígio, gênio em nenhum área, nenhum intercambio nem passagem por grandes multinacionais renomadas, inglês verbo to be e umas montagens no paint - done. Mas, isso posto em perspectiva dá, finalmente, o folego que eu precisava pra seguir em frente. 

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

aniversário de saudade: parabéns, são quinze

daí que eu disquei 9 832320 85. forçando a memória já que desde o dia 28/12/2015  não tem um rastro teu nessa casa. quer quiser, mais ou menos, porque tem muito de você em tudo de mim, ainda. 
e eu sei, tá tranquilo. tô indo bem. respiro fundo, reforço uns milhares de motivos de como-a-vida-tá-melhor-sem-você-obrigada-melhor-decisão-da-minha-vida e, bom, isso me manteve invicta até aqui. 
nenhum e-mail, nenhuma mensagem texto, nenhuma ligação, nenhuma aparição repentina no meio dos teus dias e apenas uma, ou duas noites - e agora uma manhã - chorando por você. se colocar na balança, o saldo é positivo. é só questão de tempo. aliás, chegamos ao ponto, principal: about time. é esse o nome do filme - lindomaravilhoso - que eu acabei de assistir e me deixou assim, toda chorosa. desesperada pra trocar cinco minutos de conversa contigo. nada substancial. só ouvir sua voz. reparar o jeito que você vai me chamar, o cuidado que vai ter ao escolher as palavras e o tom certo para receber essa minha ligação inesperada bem no meio da sua quarta-feira normal. e perguntar só se está tudo bem por aí. e ouvir você dizer que sim. e ficar aquele silêncio desconfortável mas bom, só por saber que você tá ali, respirando ansioso do outro lado da linha assim como eu. mas, evidente: isso é só um jogo de suposições. talvez você não fizesse nada disso, principalmente a parte de ficar ansioso do outro lado da linha. porque, afinal, muito provavelmente, seu processo deve ser tão absurdamente diferente do meu que chega ser estupidez imaginar que eu quase deixei a linha do telefone chamar. 

mas aí, ainda sob a reflexão do filme, a mesma que me fez ter o impulso de ligar porque afinal a vida é uma só, tudo de passagem, tem que viver um dia de cada vez como se efetivamente só existisse esse dia. foi exatamente a mesma reflexão que me impediu de ligar. por exatamente os mesmos motivos da linha acima, e mais um: não adianta nada olhar pra trás. como disse o personagem mais querido do filme: "a vida é uma bagunça pra todo mundo, não da pra consertar". e bom, é isso. a gente segue tentando, da maneira mais honesta, errada e menos dolorida que conseguimos. sem garantias! 

no fim, eu fiquei um tempão com o telefone na mão. olhando pela janela da área de serviço, pro nada. e escutando a música - how long will i love you - e agradecendo. agradecendo por tudo que eu já vivi até agora e, que mesmo morrendo de saudade, eu não mudaria nada. porque eu tipo, gosto da bagunça que é minha vida e tudo que tem nela. e que, porra, você é uma saudade linda.

seu cabelo, seu cheirinho, seu ombro, seu perito, seu sorriso, suas mãos, seus braços, suas coxas. seu pés não, porque eu odeio pés. rs tudo em você é lindo. e tudo de nós foi lindo. e, como diz bem em outra música - passa e fica - o que você é, hoje:  história pra contar, fica a lembrança que habita. onde não se consegue tocar. onde nada mais se modifica.

vou aqui, torcer os dedos pro destino fazer a gente se esbarrar na rua dia desses.
pra eu te dar esse abraço acumulado, fazendo aniversário de 15 dias de saudade.

um cheiro :*

sábado, 19 de setembro de 2015

quase três anos depois

Eu me sinto absolutamente confusa. E quando tento puxar na memória o principio dessa confusão não o encontro - imagino que desde sempre.
Atualmente atribuo a razão, ou a "última gota", por essae confusão - e com ela qualquer desajuste emocional - ao meu recente rompimento-não-rompimento de namoro.
Há uns sete dias, ou pouco mais que isso, tudo parecia tão bem. Digo, me sentia em processo de transformação continuo, mas conseguia enxergar um caminho linear, onde eu me via caminhando exatamente rumo ao lugar que eu imaginava querer chegar e/ou estar em dado momento da minha vida, através desses processos de autoconhecimento e evolução.
E agora, com esse stopim do rompimento (e a tristeza que vem no pacote, olhando para o lugar mais humano que conheço de mim mesma) tudo parece questionável. Por favor, não me entenda mal. Quando digo dessa confusão - que beira sim (se não for em exato) uma ausência total de sentido na vida - não digo que é por conta de não saber mais o que fazer da minha vida sem um cara, ou, nesse caso, sem 'o' cara. Digo que, o fim da relação, desencadeou um monte de questões aqui dentro. O tão famoso "efeito dominó" sabe ? Caindo e esbarrando - sem dó - em todos os espacinhos e enormes lacunas da minha mente, da minha alma e do meu corpo.
Passei a considerar, em meio a toda essa confusão, que eu talvez estivesse em uma zona de conforto. Lugar que eu transitava segura de mim mesma por todos os espaços. E então - essa tristeza incontrolável ( i n c o n t r o l a v é l ) como produto desse rompimento, (inclusive da rotina), me tomou de assalto a essas questões intimas, até então esquecidas: sobre quem eu sou no mundo e quem eu sou para mim. Muitas interrogações e nenhuma resposta. Estou vivendo, em mim mesma, uma crise de representatividade. Não sei o que sou e o que quero ser. E não sei se o que acho que  quero ser, quero, de fato ser, por meus desejos e concepções de vida e de mundo ou por imposição de desejos e traumas sociais e emocionais. E, em meio a tudo isso, eu já estou sendo. Não deixo de ser, o que por natureza sou, em momento algum. Mesmo que, por tanta angustia, eu não me veja "pronta" pra ser ou não ser nada, ninguém e coisa nenhuma. O mundo não para, para que eu me resolva. Que bom e que ruim, tão ruim. Não existe folga, respiro, pausa, break para ser alguém. O tempo inteiro, desde que nasci - e desde antes - eu estou sendo. Estou sendo um eu que não sei se quero ser, que eu nem conheço (mas penso que sim). Isso me assusta.

Quando resolvi, há três anos atrás, assumir meus cabelos crespos e cacheados, apenas por uma questão de estética, a titulo de "experimentar", não sabia o tanto de mundo que me aguardava. Eu só queria, experimentar, mudar de cabelo. Só isso!
Mas então eu descobri que sou negra e, com isso, descobri que existia (existe, né) um tal de racismo institucional e em resposta natural ao que vinha sendo (e sou), me vi na obrigação de combater esse racismo, partindo de mim, para mim e daí para o mundo que me cerca.
Na sequencia eu entendi que era preciso estudar politica. E que politica mexia em cada ponto da minha existência. E isso é tão invasivo. Coisas que antes eu julgava serem minhas, agora, havia se tornado parte de um todo, um contexto social, que em algo compõe a dita, construção social.
E o que isso tem de bonito, tem de cruel.
Pois se por um lado me sinto acolhida por enxergar minhas angustias, meus desencontros mais íntimos em outros iguais e poder, por fim, ter um lugar para me identificar, me visualizar, me tirar da solidão de ser só eu com essas questões varias. Por outro lado me sinto invadida. Por existir somente de uma perspectiva. Por fazer parte de um todo, de ser componente de um padrão social e não me conectar, essencialmente, em nada com eles. Por ser um composto de um todo, dando sentido a ele, sem que ele me ajude a encontrar meu sentido individual para ser.  E ter que lidar com minhas angustias inexprimíveis, e me questionar se isso é o que sou, ou isso é o  que querem que eu seja. E o que é meu, é meu e de mais ninguém mas não dialoga com o fato de que eu - ao mesmo tempo e em tempo integral - sou individuo e coletivo. Isso me cansa. Me esgota. Me suga. Me mata. Mas me fortalece, porque, afinal, não existe a possibilidade de parar, de não ser. O tempo inteiro sendo.

Depois de entender a presença onipotente, onisciente e onipresente da politica, esbarrei em mais um de seus  multiformatos: o feminismo.  Impulsiva que sou, me entreguei de corpo e alma nas lutas, nos discursos, nas causas. Foi como mergulhar, sem saber mergulhar, e aí você bate a barriga com tudo na água e arde, arde muito. arde tanto. Mas daí você já mergulho, já ardeu e já não tem como voltar atrás. Você se enfiou inteiro e isso traz junto o desconforto da ardência.

O feminismo me ultrapassou. Fez e faz, dia a dia, com que minha cabeça frite.
Um passo adiante, conheci o feminismo negro. Que me arregaça. Não há outra palavra que possa definir o que eu sinto. Me arregaça. Arranca, uma a uma, todas minhas feridas.

Arde em mim num nível que, definitivamente, eu não me aguento. Me perco e me encontro, em cada linha, cada texto, cada relato e encontro - como esse que estamos hoje - com outras mulheres negras.

Não satisfeita com tudo isso, sou bissexual. Moro na periferia da cidade de São Paulo, no Brasil - essa informação é extremamente revelante.

Mas ainda não estava de bom tamanho, inventei esses tempos de ser praticante do relacionamento aberto e simpatizante da ideologia (?) do amor livre e poliamor. Mas, como eu disse, a essa altura do campeonato não sei se sou, se quero ser ou se acho que quero ser porque em algum canto isso me pareceu 'legal' ou me atribuiu um status social, que, penso eu, acaricia alguma parte do meu ego.
Mas daí que, organicamente, meu corpo acusa que não. Que não sou tudo isso ai que eu pensei ser sobre essa questão das relações livres. Estou me decepcionando com alguém por ter ultrapassado o limite da minha liberdade. Reparem o quão absurda e incoerente é essa frase. Pois é.

Fato é que estou aqui com um nó na garganta, uma dor de estomago e um aperto no peito que não cura nunca.  Que acusa que cheguei em um grau de acesso ao conhecimento que não estou suportando digerir, que não desce. Uma fase do jogo retroceder é impossível, um direito roubado. E que prosseguir faz sangrar. E, aliás, prosseguir para onde ?

Eu meio que não sei o que fazer com tudo isso que estou sendo.