sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Um despertar felizmente perturbador ou a manhã que acordei apaixonada


Deve ter algum estudo que calcule a relação tempo-espaço que ocorre  entre o abrir de olhos e o despertar funcional do cérebro quando acordamos, digo isso porque parte importante da estória a seguir se concentra neste meio-tempo.


No último sábado, despertei de uma bebedeira razoável desses destilados doces e gelados. Dessa vez era em  comemoração. Calma, acredite: nenhuma tentativa frustrada de esquecer um amor mal cuidado como era de costume. A madrugada, a música e as luzes eram memórias cravadas e concretas da noite ainda recente. O que eu custei a identificar quando abri  os olhos - ainda sem despertar o cérebro - assustada,  era a canseira no corpo semi-nu vestindo apenas uma camiseta, duas vezes maior que a circunferência da minha cintura com um cheiro não tão desconhecido e bom. Amavelmente bom. O  cobertor roxo, as manchas na parede por conta de certa umidade e, principalmente, a música clássica ao fundo que em hipótese alguma seria o tipo de musica escolhida pela minha mãe para contemplar um  começo de sábado, confirmaram a suspeita de quê em casa eu não estava definitivamente.

Custei a reconstruir  o caminho que me conduzisse a lógica disto. Daí, afim de encaixar a porção de cenas emaranhadas na minha mente, percorri os olhos pelas roupas distribuídas no chão do quarto, fitando  em seguida a mesa do computador, os papéis, os sapatos e um copo de suco de laranja meio vazio ao alcance ideal das minhas mãos. Trabalhando em prol da minha memória, teu cheiro - que assim que identificado como teu - me deu a letra ditando todos os felizes fragmentos que faltavam para sequenciar  os fatos e eu, enfim, me caber ali:  primeiro na tua camiseta, depois na tua cama, depois na estante -em forma de  bijuterias espalhadas - bem como eu inteira, de corpo e alma, no contexto da sua vida.
Com a paz de quem se encontra em si, um riso discreto tomou conta do canto da minha boca. Significando em forma de pensamento alto: "Novo lar meu bem, sossega."

Deste momento em diante coube poesia por todos os cantinhos daquela tua-minha casa. Minha porque me fiz dona daquele contexto que, por consequência,  tinha cenário a tua casa. Displicente como a princesa que Chico fez coroar na canção João e Maria, caminhei nua pelo teu país e te encontrei ali, no meio da cozinha com uma beleza tão beleza á ponto de causar desconforto ao meu coração há pouco amanhecido em paixão.
Queria eu dominar à habilidade das palavras e te escrever em belas linhas e sentenças literárias   tudo o que senti quando te encontrei naquela manhã. De instinto você, ao me ver, ofereceu um sorriso acolhedor de bom-dia-pequena. Fiquei de canto, parada e perplexa admirando a perfeição com que teu cabelo combina com os ombros, que combina com teus braços e desenham suas mãos, que, naquele momento, desenhavam também o retrato do teu pai á grafite. Dado  então esse momento de admiração, você me invadiu com um segundo sorriso. Esse então me remeteu a paz de todos os anjos celestes - isso, claro, se acreditássemos em anjos -  e em lei convidou meu corpo a se aproximar do teu. Eu, que sem pudor, me aconcheguei de mansinho no teu colo, fazendo dos teus braços e abraços minha propriedade privada. No enlace do teu braço na minha cintura. Como decreto de uma paixão oficializada: um beijo na testa. 

Um comentário:

  1. Os desenlaces dessa história muito me comovem e me fazem, a cada vez que leio, acreditar mais ainda nas canções do Chico. ♥

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