quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Me deixas louca

Um apartamento pequeno e antigo no centro de São Paulo,que apesar dos problemas continua sendo a nossa cidade preferida no mundo. Piso de tacô velho. Paredes brancas e bem compridas. Sala espaçosa e bem disposta,quanto á cozinha,bom,nem tanto mas tem espaço suficiente para conversarmos algumas coisas corriqueiras,cozinhar macarrão no domingo e ser abraçadas enquanto lavamos a louça do dia-a-dia.
Tem cheiro de vida a dois. Ou melhor: cheiro de "nossa-vida-á-dois-só-pra-começar". 
Não tem nada demais por enquanto. Poucos móveis e muita improvisação. As mesas de som dela é o que chama mais atenção,fica bem no começo da sala,provisoriamente. Tem umas caixas empilhadas com meus livros e porta-retratos e outras quatrocentas bugigangas. Bom,tudo bem,a gente nunca precisou de uma casa nossa para se sentir em casa uma na outra,justamente por isso estamos tão felizes com esse "tudo-nada" que temos por hora.

 E derrepente aconteceu.Minha cena favorita das nossas vidas.
 Aquela que desde muito tempo eu venho recriando aqui comigo.

Uma dessas sextas-feiras á noite cheguei em casa morta de cansaço,irritada com o mundo,só para variar. Fui direto pra cozinha e coloquei a lasanha no microondas por exatos dezesseis minutos,depois,hora do  banho. Saí  do chuveiro e nada dela chegar. Nenhuma mensagem no celular,ligação ou porra qualquer. Me diz, o que custa ligar falando aonde está ? É sexta-feira,preciso de dengo e não de atrasos. Conta até dez,respira.
 Calcinha cinza com desenho de panda,sutiã lilás com uvas roxas e camiseta dez vezes maior que o próprio corpo, rasgada á moda ''dela'' de ser. Coque no cabelo,limpo e com cheiro do amor. Tirei a lasanha do microondas,e ouço a porta abrindo. Até que enfim,hora da guerra.Estou estressada,logo, hoje é dia dela me ouvir. Ela ainda não veio falar comigo: bilhete premiado amor,hoje você dorme na sala.
Aí ela apareceu na porta da cozinha, absolutamente linda. Estou embirrada e finjo que não á vi. Ela me abraça por trás e eu já não tenho mais tanta certeza se quero brigar. Não baixo a guardo,ainda estou brava. Ela disse que eu estou cheirosa e que está com saudades. Não dou a mínima. Há essa altura do campeonato ela já reparou que estou brava. Saiu da cozinha sem dar explicações. E olha, nem adianta ela vir com esse papo que não quer discutir,não vou abrir mão. Enquanto pego o suco na geladeira presto atenção nos movimentos dela,tentando me preparar melhor em argumentos caso ela tente fugir das explicações. Mas sou mulher dela porra,eu mereço explicações. Tudo bem que ela não se atrasou muito,mais mesmo assim. Hoje não dá pra relevar. 
Ela viu que eu estou brava e mesmo assim vai ligar essa droga desse som ?!
Saio pisando duro com o copo de suco meio cheio,está feito...vou começar a falar que nem uma tagarela. Desliga essa droga agora e nem vem com esse papo de que não quer brigar. Articulo tudo isso durante os quatro passos que dou até a sala e sou interrompida drasticamente quando ouço os primeiros acordes da música. Cheguei na sala bufando de raiva ou nem tanto assim. Está  tocando Elis e ela me sorri. Que sorriso mais lindo. E chega pertinho,com esse cheiro bom dela, e que me fez ama-lá desde sempre. Me dá um beijo no pescoço e pega o copo de suco da minha mão. Estou imóvel e tentando refazer todos os meus planos. Um pouco nervosa ainda,mas apaixonada. Beijou meu pescoço de leve,segurou na minha cintura com uma das mãos,com a outra colocou o copo de suco sobre  a mesa  de som. Me puxou mais pra perto e me envolveu toda pela cintura. 


Parte da música: ''E quando escuto o canto alegre do teu riso,que me dá tanta alegria"



Ao passo da música,abraçadas,caminhamos até o interruptor. Ela cuidou de apagar a luz.  No mesmo ritmo voltamos ao centro da sala. Dançamos. Devagar.Juntinho.Pertinho. Deixei para trás ás acusações. E me diz,qual discurso feminino histérico resiste á uma dose extraordinária de amor ?! Aí ela me olhou através do feixe de luz que o poste da rua fazia. Deu um risinho sagaz de ''te desarmei de novo,como sempre'', Me deu um beijo na testa e susurrou: "Obrigada por ser minha mulher".






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