sábado, 19 de setembro de 2015

quase três anos depois

Eu me sinto absolutamente confusa. E quando tento puxar na memória o principio dessa confusão não o encontro - imagino que desde sempre.
Atualmente atribuo a razão, ou a "última gota", por essae confusão - e com ela qualquer desajuste emocional - ao meu recente rompimento-não-rompimento de namoro.
Há uns sete dias, ou pouco mais que isso, tudo parecia tão bem. Digo, me sentia em processo de transformação continuo, mas conseguia enxergar um caminho linear, onde eu me via caminhando exatamente rumo ao lugar que eu imaginava querer chegar e/ou estar em dado momento da minha vida, através desses processos de autoconhecimento e evolução.
E agora, com esse stopim do rompimento (e a tristeza que vem no pacote, olhando para o lugar mais humano que conheço de mim mesma) tudo parece questionável. Por favor, não me entenda mal. Quando digo dessa confusão - que beira sim (se não for em exato) uma ausência total de sentido na vida - não digo que é por conta de não saber mais o que fazer da minha vida sem um cara, ou, nesse caso, sem 'o' cara. Digo que, o fim da relação, desencadeou um monte de questões aqui dentro. O tão famoso "efeito dominó" sabe ? Caindo e esbarrando - sem dó - em todos os espacinhos e enormes lacunas da minha mente, da minha alma e do meu corpo.
Passei a considerar, em meio a toda essa confusão, que eu talvez estivesse em uma zona de conforto. Lugar que eu transitava segura de mim mesma por todos os espaços. E então - essa tristeza incontrolável ( i n c o n t r o l a v é l ) como produto desse rompimento, (inclusive da rotina), me tomou de assalto a essas questões intimas, até então esquecidas: sobre quem eu sou no mundo e quem eu sou para mim. Muitas interrogações e nenhuma resposta. Estou vivendo, em mim mesma, uma crise de representatividade. Não sei o que sou e o que quero ser. E não sei se o que acho que  quero ser, quero, de fato ser, por meus desejos e concepções de vida e de mundo ou por imposição de desejos e traumas sociais e emocionais. E, em meio a tudo isso, eu já estou sendo. Não deixo de ser, o que por natureza sou, em momento algum. Mesmo que, por tanta angustia, eu não me veja "pronta" pra ser ou não ser nada, ninguém e coisa nenhuma. O mundo não para, para que eu me resolva. Que bom e que ruim, tão ruim. Não existe folga, respiro, pausa, break para ser alguém. O tempo inteiro, desde que nasci - e desde antes - eu estou sendo. Estou sendo um eu que não sei se quero ser, que eu nem conheço (mas penso que sim). Isso me assusta.

Quando resolvi, há três anos atrás, assumir meus cabelos crespos e cacheados, apenas por uma questão de estética, a titulo de "experimentar", não sabia o tanto de mundo que me aguardava. Eu só queria, experimentar, mudar de cabelo. Só isso!
Mas então eu descobri que sou negra e, com isso, descobri que existia (existe, né) um tal de racismo institucional e em resposta natural ao que vinha sendo (e sou), me vi na obrigação de combater esse racismo, partindo de mim, para mim e daí para o mundo que me cerca.
Na sequencia eu entendi que era preciso estudar politica. E que politica mexia em cada ponto da minha existência. E isso é tão invasivo. Coisas que antes eu julgava serem minhas, agora, havia se tornado parte de um todo, um contexto social, que em algo compõe a dita, construção social.
E o que isso tem de bonito, tem de cruel.
Pois se por um lado me sinto acolhida por enxergar minhas angustias, meus desencontros mais íntimos em outros iguais e poder, por fim, ter um lugar para me identificar, me visualizar, me tirar da solidão de ser só eu com essas questões varias. Por outro lado me sinto invadida. Por existir somente de uma perspectiva. Por fazer parte de um todo, de ser componente de um padrão social e não me conectar, essencialmente, em nada com eles. Por ser um composto de um todo, dando sentido a ele, sem que ele me ajude a encontrar meu sentido individual para ser.  E ter que lidar com minhas angustias inexprimíveis, e me questionar se isso é o que sou, ou isso é o  que querem que eu seja. E o que é meu, é meu e de mais ninguém mas não dialoga com o fato de que eu - ao mesmo tempo e em tempo integral - sou individuo e coletivo. Isso me cansa. Me esgota. Me suga. Me mata. Mas me fortalece, porque, afinal, não existe a possibilidade de parar, de não ser. O tempo inteiro sendo.

Depois de entender a presença onipotente, onisciente e onipresente da politica, esbarrei em mais um de seus  multiformatos: o feminismo.  Impulsiva que sou, me entreguei de corpo e alma nas lutas, nos discursos, nas causas. Foi como mergulhar, sem saber mergulhar, e aí você bate a barriga com tudo na água e arde, arde muito. arde tanto. Mas daí você já mergulho, já ardeu e já não tem como voltar atrás. Você se enfiou inteiro e isso traz junto o desconforto da ardência.

O feminismo me ultrapassou. Fez e faz, dia a dia, com que minha cabeça frite.
Um passo adiante, conheci o feminismo negro. Que me arregaça. Não há outra palavra que possa definir o que eu sinto. Me arregaça. Arranca, uma a uma, todas minhas feridas.

Arde em mim num nível que, definitivamente, eu não me aguento. Me perco e me encontro, em cada linha, cada texto, cada relato e encontro - como esse que estamos hoje - com outras mulheres negras.

Não satisfeita com tudo isso, sou bissexual. Moro na periferia da cidade de São Paulo, no Brasil - essa informação é extremamente revelante.

Mas ainda não estava de bom tamanho, inventei esses tempos de ser praticante do relacionamento aberto e simpatizante da ideologia (?) do amor livre e poliamor. Mas, como eu disse, a essa altura do campeonato não sei se sou, se quero ser ou se acho que quero ser porque em algum canto isso me pareceu 'legal' ou me atribuiu um status social, que, penso eu, acaricia alguma parte do meu ego.
Mas daí que, organicamente, meu corpo acusa que não. Que não sou tudo isso ai que eu pensei ser sobre essa questão das relações livres. Estou me decepcionando com alguém por ter ultrapassado o limite da minha liberdade. Reparem o quão absurda e incoerente é essa frase. Pois é.

Fato é que estou aqui com um nó na garganta, uma dor de estomago e um aperto no peito que não cura nunca.  Que acusa que cheguei em um grau de acesso ao conhecimento que não estou suportando digerir, que não desce. Uma fase do jogo retroceder é impossível, um direito roubado. E que prosseguir faz sangrar. E, aliás, prosseguir para onde ?

Eu meio que não sei o que fazer com tudo isso que estou sendo.


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