domingo, 14 de fevereiro de 2016

fala guerreira, relação de trabalho, perrengue e a dor de amadurecer

trabalhe com o que você ame. eu sei, eu sei, eu sei. não tem nada mais clichê que esse papo de trabalhar com o que você ama, ainda mais pra nós da tão mal falada geração y - essa geração que não sabe lidar muito bem com a vida adulta-profissional - bom, pelo menos é o que dizem. 
nada tão clichê e, principalmente, tão romantizado. bonita de falar, mas e fazer ? quem dá conta ? eu não sei daí quais são os teus perrengues, mas do lado de cá, só digo em duas palavras: tá fo-da.  muita conta, nenhum dinheiro e há mais de uns meses na estatística de desemprego que só aumenta - +1. 
mas, mesmo sob esse contexto, retomo pra dizer que a frase está correta, corretissima, literalmente correta - é vital trabalhar com o que se ama. faz bem pra cabeça, pra alma, pro corpo. faz você se sentir confiante, autônomo, realizado aquele gostinho de estou-fazendo-minha-missão-no-mundo. 
dessa frase a única coisa errada é o significado que damos a palavra trabalho. o que está errado, erradíssimo, errado pra cacete é essa relação de trabalho subserviente que nos é dada desde que nos entendemos por gente. onde por trabalho, se entende: função - tarefas - das 9h ás 18h - 1h de almoço - telefone - computador - chefes - bateu o ponto - acabou por hoje. 
mas trabalho não é isso, digo, não deveria ser. trabalho é o que você é e o que você produz a partir daquilo que você é. trabalho é sua expressão intelectual, politica, social no mundo. é o que você consegue produzir - e, com isso, se sustentar. viabilizar retorno para que você possa comer, beber, vestir, andar e, enfim, toda aquele piramide de maslow.
acontece que fizemos essa cisão entre eu ser humano + eu e meu trabalho, quando, na realidade, não deveria ser assim. e esse tão - em dias de capitalismo mais globalização mais era digital mais sociedade do consumo mais status e blá - utópico conceito de trabalhar com o que se ama, consiste em ressignificar nossa relação com o trabalho, com o conceito e com a pratica. 
trabalhar é estruturar um pensamento, aplicar um projeto, difundir uma idéia, algo que você se dedique, que exija da sua capacidade intelectual, interpessoal, que demanda algum tempo da sua vida e faça parte das tuas vivências nos múltiplos espaços que você permeia. que contemple suas ações enquanto individuo e coletivo. no final das contas, trabalhar com o que se ama, é produzir algo no qual você acredite e só. e isso pode estar sim, no escritório, no horário comercial e com alguns chefes - como manda o figurino, mas, pode - e muito provavelmente está - nesse outro lado que você não olha muito, que você deixa ali, de ladinho, com pouco caso. 
dizendo por mim: estou há mais de um ano numa fucking crise profissional. muitos estágios, uma graduação a poucos passos da conclusão e nem de longe o cheirinho de uma realização profissional. desempregada, sem grana, um perrengue danado. uma cabeça lá, toda voltado para os moldes já impostos do que é realização profissional, afinal, o que eu sei mesmo ? o que eu posso oferecer ao mercado de trabalho ? e na minha cabeça, a única (e profundamente dolorosa) frase ecoando: "NA-DA". não sou nenhuma garota prodígio, gênio em nenhum área, nenhum intercambio nem passagem por grandes multinacionais renomadas, inglês verbo to be e umas montagens no paint - done. Mas, isso posto em perspectiva dá, finalmente, o folego que eu precisava pra seguir em frente. 

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